sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Os óculos


Lá na Instituição, aos sábados, é uma correria e tem mais barulho do que nos outros dias. Aos sábados recebemos as crianças. É o dia delas. Com aquele burburinho típico, com a rotina completamente mudada por conta de suas risadas deliciosas, de suas múltiplas perguntas que exigem respostas imediatas, por sua curiosidade mais do que normal, chegando a ser atrevida, às vezes.
Que delícia isto tudo.
Naquele sábado, quando as expositoras se preparavam para mais uma aula e se dividiam para os afazeres da festa do dia das crianças, Adelaide ralhava com as crianças, descendo as escadas freneticamente, a procura de seus óculos. Chamava, pelos nomes, os alunos e os advertia que, se não encontrasse os seus óculos, suspenderia as atividades de preparação para a festa do dia das crianças.
Mas, com aqueles sorrisos lindos e desinteressados, com aquele jeitinho traquina, as crianças se atropelavam, subindo e descendo as escadas, na maior correria, deixando nossa pobre Adelaide completamente sem rumo.
Voltem aqui já! Não corram! Ai meu Deus, esta escada! Cuidado meninos e meninas! Andem mais devagar! Onde estão meus óculos? Vocês têm de me dar conta disto, ou, nada de festa, heim!
Tia Adelaide, preste atenção. Diziam eles sorrindo, sem parar de correr. E caiam na risada.
Cantavam as canções, já tantas vezes ensaiadas em sala de aula e revezavam nas explicações sobre a coitada da Adelaide que não conseguia alcançá-los.
Lá vem tia Beth e tio Tadeu em seu auxílio, tentando controlar as crianças com sua energia sem fim. E, num instante, as crianças são direcionadas para suas salas de aula e a ordem volta a reinar. Cada turma é orientada para seu dever do dia. Cada sala tinha a incumbência de confeccionar as lembrancinhas e montar os kits de guloseimas para a festa. Outras se empenhavam nos ensaios das músicas e de outras apresentações para a festa. E lá ia Adelaide, resmungando aflita, procurando por seus óculos. Sem eles, ela não poderia fazer nada. Precisava ler e escrever e ainda muita coisa tinha de ser feita. Tinha de repassar tudo e organizar de forma simples para distribuir o roteiro da festa a todos, crianças e adultos.
Onde estão meus óculos? Não estou gostando nada desta brincadeira. Estas crianças são terríveis. Falava alto para todas ouvirem, mas, em seu rosto havia aquela expressão bonachona que as crianças conheciam tão bem. As crianças amavam muito a querida tia Adelaide.
A tarde era curta para tantas atividades. Fizeram todos os cartazes, embalaram os doces e chocolates, acondicionaram nas sacolinhas, fizeram todos os desenhos, ensaiaram as falas para a apresentação teatral, decoraram o jogral, enfeitaram as salas e o salão principal, cantara, riram, escreveram, brincaram... Sempre alegres e dispostos, supervisionados pelos tios Tadeu, Beth e Adelaide...
Quase no fim do período, quando as atividades já estavam por se encerrar, Adelaide, já meio descabelada e super atrapalhada por não enxergar direito, senta-se e tenta enxugar o suor que já lhe escorria pela face. Ao passar seu lenço pela testa, sente algo estranho e é surpreendida por um objeto, preso ali.
Entre risadas estrondosas e muitas piadinhas das crianças e dos outros expositores, Adealide também gargalha de seu constrangimento. Olha aí onde estavam os seus óculos, o tempo todo. Em sua testa, bem firme e imponente, como um verdadeiro troféu.
Logo deduziu que todos estavam vendo, menos ela e que as crianças haviam, realmente, lhe pregado uma peça, não contando onde estavam os óculos, a vista de todos, menos dela mesma.
Aos gritinhos, as crianças lhe diziam: viu só, tia Adelaide, quem tem de prestar mais atenção?
E todos riram em conjunto
, muito felizes, por mais uma tarde na Instituição, ao lado de tão queridos companheiros.

12 comentários:

Anônimo disse...

So, deliciosa narrativa.
As crfianças semprfe se p;restam para nos permitir contos, estorias e relatos.
Teu texto vem confirmar uma teoria que sempre defendi.
Crianças, na sua santa inocência, são mais malvadas qaue muito adulto de má indole.
E dessas malvadezas, nos rimos!
beijos. Miguel

Anônimo disse...

O anonimo sou eu que inadvertidamente cliquei antes de digitar meu nome.

Anônimo disse...

Ótima, ótima essa peça que as crianças pregaram na Tia Adelaide!
Eu fiquei junto com as crianças...rs É uma delícia fazer essas "pequenas malandragens", sem grandes conseqüências.
Mas, quer saber? Já me aconteceu esse fato de procurar óculos, com eles, na testa.
Entretanto, não perguntei a ninguém. Só os procurei, feito doida! E da mesma forma que ela, já desalentada, passei a mão nos cabelos...e eles estavam lá, rindo de mim...rs
Beijos, querida!
Dora

Ana Lúcia. disse...

Soninha!
Que delícia!
Você me fez rir e me transportou para o espaço “das crianças”.
Ouvi gritos e gargalhadas.
Ouvi o sobe e desce da escada.
Ouvi a alegria que as crianças carregam naturalmente como “seu som”!
E, adorei o “chapéu’ da Tia Adelaide...
Admiro, profundamente, o talento da escrita que envolve, gera ansiedade, altera as batidas do coração.
Traz aquele calor ao olhar. Traz a vida bem perto da “telinha do notebook”.
Não tenho esse talento, e ainda mais por não tê-lo, humildemente deixo aplausos, muitos, aqui!!
A “minha criança” ficou correndo dentro de mim e querendo estar lá, ou estar aqui, pois tudo estava tão perfeito que ficou difícil separar a verdade da ilusão!!
E, nem preciso dizer que me deu vontade daquele saquinho de guloseimas...
E agora?
Vou até a padaria e vou comprar um chocolate ... Ou será que faço uma panela de brigadeiro e como de colher... (rs)
Beijãozinho. Carinho. Paz. Sorriso e Vida. Lindo fim de dia procê... flores e aromas!!

MLopomo disse...

Nos meus tempos de criança, eu era igual a essas do conto. Bagunceiro, irrequieto, quebrador de brinquedos, e também batia em outras crianças. Mas tudo isso em boa causa. Boa causa? Eu explico: Minha mãe que era de criação (sou órfão, desde os quatro dias de nascido), não deixava eu brincar na casa dos vizinhos pois sabia do que eu era capaz.
As vizinha fofoqueiras, diziam que ela deixava meu irmão porque ele era filho legitimo e eu não. Eu não estava nem ai. Mas, Pedia. Mãe. Posso ir, na casa da dona Laura? - Não dizia ela. De tanto falatório das vizinhas, um dia surpreendentemente, no meu pedido normal, ela disse. Pode ir sim, apenas isso sem nenhum,a recomendação. Fui e acabei com a “festa” Fiz o diabo. Na balança eu ia alem do limite. Ela estava próximo ao tanuqe de lavar roupa, e o impulso era tão forte que eu batia a cabeça no zinco que cobria o tanque.
Até que o telhado de zinco não resistiu e caiu. Não demoro três dias e lá foi a fofoqueira dona Laura reclamar com minha mãe. Dona Orlinda. Não agüento mais o Mário!
- A é? Bem feito pra senhora, eu o segurei o quanto pude, agora a senhora que se dane. Não voa mais proibi-lo de ir a sua casa.
Estava eu com medo de tomar uma surra. Surra essa que não veio. Então eu fui até minha mãe e disse: Mãe, todo esse negocio que fiz foi de propósito.
– De propósito, porque? Explique!
- A dona Laura não ficava dizendo que a senhora não deixava eu ir, só porque não sou seu filho legitimo? Então eu mostrei a ela sem dizer uma só palavra, que não era verdade.
Eu tinha quando muito 10 anos de idade.
Mário Lopomo
http://mlopomo.zip.net

Beti Timm disse...

Soninha, amiga!

Que delicia! me transportei a minha infãncia! Apesar dela ter sido muito triste, pq apanhava muito de minha mãe, e ela não permitia que eu brincasse com nenhuma criança. Então eu me enfiava, num porão, recortava figuras das revistas e criava hitórias. Também desenhava, pq minha mãe nunca permetiu que eu desenhasse, dizia que isso nunca ia me dar dinheiro e que eu devia era fazer as "lidas" da casa, em vez de perder tempo desenhando. Talvez por isso custei tanto a assumir meus desenhos, e passo horas desenhando, mesmo as vezes com a sensação de estar fazendo algo errado. Mas resgatei é o que importa. Hj uso lentes de contato, mas qdo menina usava óculos e os perdia a todo momento. Adorei a história. Crianças são um mundo à parte!

Beijos sapecas

Beti Timm disse...

Vim correndo deixar meu beijinho, pra não esquecer de mim!

Beijinho, beijinho

Crys disse...

Coisa gostosa é ser criança! Valeu as boas risadas que dei, estava precisando disso, amiga. Obrigadão!
Belo texto!
Beijos

Ana Lúcia. disse...

Soninha,
Vim tomar um café!
Não tinha...
Então, vou indo...
Mas, deixo um carinho.
Beijãozinho.

Beti Timm disse...

Amiga, onde anda você? Tô com saudades e preocupada!
Mas tudo bem, espero com paciência vc distribuir sua luz especial!

Beijão

Beti Timm disse...

Soninha,
mais uma vez agradeço tua delicadeza, para comigo. é bom saber que nesta caminhada anjos como vc estão do meu lado. Entendo vcs não poderem vir, não faltarão opurtunidades para nos abraçarmos.

Sou sua fã número um, viu?

Beijos carinhosos

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Soninha,

estamos vindo aqui dar um alô de que a blogagem da Adocao comeca na Segunda-feira e termina no Sábado.

Escolhe por favor um dia para postar o seu texto e nos avise por favor.

Um abraco do Dacio
http://casadefestas.blogspot.com/

e da Georgia
http://blog-blogagem.blogspot.com/

um abracao