sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O amor vencendo o tempo

Olhando aquele quadro, numa exposição na Pinacoteca de SP, Sara trazia para sua lembrança o rosto de seu amado Luiz.
Era como se ela voltasse no tempo, revivendo todos os momentos que eles se amaram.
Ela conseguia, como num passe de mágica, voltar no tempo e ver todas as épocas das vidas que juntos tiveram.
Via-se como plebéia a correr com seu amor pelos campos dos pastores nômades da Roma antiga, escondendo-se dos patrícios que queriam ser superiores a todos.
Recordava os momentos cruéis das cruzadas, a esperar pela volta de seu amado das batalhas sangrentas, depois dos combates contra os inimigos do cristianismo nas Terras Santas de Jerusalém.
Trouxe à memória doces lembranças dos tempos em que encontrava-se com seu amado, às escondidas, nos corredores e salas secretas das maravilhosas igrejas que guardavam em seus altares e santos as mais belas juras de amor eterno, ditas por seu querido quando ainda estudante de Galileu Galilei, em épocas renascentistas.
Olhando, agora, a réplica da Gioconda de Da Vinci, naquela sala moderna da Pinacoteca, ouvia o burburinho das grandes festas burguesas da sociedade feudal, quando brindava ao amor, junto com seu amante misterioso, depois de beijos ardentes e promessas de novos encontros secretos nos arredores do palácio.
Conseguia sentir o cheiro das ruas e dos campos cobertos por girassóis, da Rússia em plena revolução, e de feromônios quando se perdia nos beijos e no sexo feito com toda a volúpia, rolando pelos campos, enquanto pôde esconder a barriga da gravidez inevitável. Fruto querido de seu amor vivido com toda a plenitude da juventude.
Doces lembranças de seu amor vivido quando eram ativistas de revoluções comportamentais da década de 1950, quando o mundo experimentava grandes inventos tecnológicos, como a televisão e festejava os fins de guerras e finais de campeonatos esportivos.
Quando enfermeira, em plena guerra do Vietnã, cuidou das chagas de seu amado que voltara da batalha, sangrando e inconsciente, voltando a si com as mãos carinhosas de Sara ao lhe fazer os curativos. Foi amor instantâneo.
Nos sertões nordestinos brasileiros ou nos rincões distantes rio-grandenses, colhendo as mais deliciosas uvas para a produção dos vinhos, viu seu amado deliciar-se observando-a em seu pisar ritualístico nas uvas.
Ao observar todas aquelas obras de arte, sua mente se enchia destas doces lembranças existenciais, ao lado de seu amor. Amor que resistia a tudo. Atravessavam os tempos se amando sempre, experimentando tudo o que a juventude podia e queria.
Atravessaram o tempo tocando guitarras, fumando baseados e cheirando cocaína, nas sendas dos anos dourados, sem deixarem, um instante sequer, deste amor bandido e, ao mesmo tempo, amor puro, que resistiu ao tempo e às exigências de todas as reencarnações.
Reviveu os dias felizes quando se encontraram depois de uma reunião entre amigos, quando ela cantava pelo aniversário de um deles e Luiz, encantado, foi-lhe cumprimentar.
Desde aquele momento, até o fim, não deixaram de se falar um dia sequer. Encontravam-se sempre em momentos de intensa paixão e amor.
Trocaram juras e promessas, novamente. Viveram, em um ano e alguns meses, o mais intenso amor, o romance mais lindo que eles já haviam tido.
Quantas vezes riram juntos em deliciosas conversas ou choraram juntos com os mais diversos problemas, resolvidos ou não, mas, sempre juntos e amando sempre.
Selavam mais uma existência com este amor maior, que parecia transcender a outros mundos.
Lembrou com lágrimas copiosas o momento supremo da passagem de Luiz para a espiritualidade, nesta última encarnação, dizendo: Sara, meu amor, meu eterno amor.
Aquela doença cruel levara seu amado para outra dimensão da vida, deixando-a novamente só.
Mas, Sara sabia que isto era momentâneo. Porque a morte faz parte da vida e a morte é, apenas, uma transformação. Um dia, eles se encontrarão novamente, para viver este amor, realizando todos os sonhos que eles têm direito e para os transformarem em realidade.
Por Sonia Astrauskas

9 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Nossa!
Este foi um perfeito exercício de regressão a diversas encarnações e de um amor eterno, vivido em todas as épocas.
Essa cronista está me saindo melhor que a encomenda.
Adorei o texto, a clareza de idéias e a exposição do temna de forma constante e intrigante.
Parabéns!

Anônimo disse...

SENSACIONAL!!!! Eu não teria ou palavra.... Parabéns amiga, estou ainda mais orgulhosa de você...
Esse ficou ainda melhor.
Bjokas
Clau

Anônimo disse...

Amigaaaa...caraca....
Vai ter inspiração assim lá longe. Nossa!
E vc estava escondendo este talento todo né.
Eu adorei esta história e quero ler muitas outras.
Escreva sempre.
Parabéns Soninha
bjsssssssss

Luzia

Anônimo disse...

Quando leio estas coisas que vc escreve, tenho a certeza de sua sensibilidade psiquica.
Tantas vezes vc falou comigo sobre estas questões das vidas sucessivas e das experiências pelas quais passamos, nesta ou noutra existência.
Tambem percebo, em tudo o que vc escreve, a pessoa amorosa e carinhosa, que ama, chora, ri e sente saudade...A pessoa humana, mas, ao mesmo tempo, o anjo bom que vc é na vida de todos nós, os seus amigos.
Vc é sempre aquela mão amiga, estendida para nós, nos auxiliando em qualquer situação.
Estou feliz por ler seus textos e mais feliz por vê-los publicados aqui. Vc merece tudo de bom...tudo de melhor.
Te abraço e te parabenizo, minha amiga querida.
E, como vc mesma diz: muita paz!
bjs

Anna Lucia

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Sonia, li lá no Dacio que você gostaria de participar da blogagem sobre o tema Adocao. Já coloquei seu nome junto aos participantes. Pega lá no blog o selinho e cola aqui no seu blog. Nos ajude a divulgar o tema a ser discutido, convida seus amigos.

Certamente que a morte chegará para todos nós um dia e a vejo como um reencontro do outro lado daqueles que nós amamos. Nao acredito que a morte seja o fim, mas também nao acredito em reencarnacao. Acredito que possamos até nascer novamente, mas receberemos um novo nome, uma nova vida para ser vivida. Mas seu texto estava muito bonito.

Um grande abraco

Georgia Aegerter disse...

Bom dia!!!

Obrigada pela forca na blogagem.

Olha, vim te avisar que todos os participantes da blogagem Adocao, estao em novo blog criado para este assunto. Por favor, verifique se seu link está abrindo direitinho. Por favor, traga o selo também para cá, nos ajude a divulgar esse assunto super importante.
http://blog-blogagem.blogspot.com/

Te desejo um ótimo dia.

Abracos

Crys disse...

Soninha, querida,
Na fusão do ser, do tempo e do amor a se lançar na essência, como uma grande explosão que romperá o obstáculo da morte para lançar-se no infinito atemporal. O amor e a liberdade constituem a única senha que dá passagem à posteridade.

Eu só quero saber onde vc se escondia, que nós privou tanto tempo, de ler textos tão bonitos e palavras tão sensatas.
Muito bom!
Um abençoado fim de semana!
Um beijo, no seu coração!

Crys disse...

corrigindo: "que nos privou..."

Ana Lúcia. disse...

Oi, Soninha!
Vim rapidinho, retribuir a visita!
E, que visita!!
Cheguei e já deparei com o “amor eterno”.
O amor que nasce e renasce!
É tão forte, tão frágil...
É tão “especial” que não encontra “FIM”!!
Gostei muito.
Li inteligência.
Li emoção.
Li coragem.
Li amor!!
Parabéns.
Beijãozinho.
Paz e Sorrisos, sempre...