terça-feira, 25 de novembro de 2008

Natal diferente

Ai ai...ainda estou com uma enorme vontade de modificar o mundo!
Soninha samaritana - a luta continua.
Mas, quero deixar desde já, uma mensagem de Natal, desejando a todos que me lerem, o mais pacífico Natal e que se realizem todos os seus mais belos sonhos.
Muita paz!!


Lá ia Papai Noel, todo afobado, com sua lista enorme de presentes que tinha de providenciar.
Ao longo do ano ele havia recebido zilhões de cartinhas, e-mails e recados em blogs do mundo inteiro. Até contratou mais duendes para ajudá-lo, pois os que já estavam com ele há milênios, já não davam conta do trabalho.
Sentia-se feliz em ter gerado mais empregos, mas, ao mesmo tempo, achava-se velho e cansado. Mamãe Noel, toda preocupada, pensou em algo fazer para ajudá-lo.
Começou a organizar toda a correspondência escrita, enquanto aprendia a lidar com o computador novo, um notebook de última geração. As tarefas de casa foram delegadas às secretárias do lar que ela havia contratado recentemente, justamente para ajudar ao seu bom e velho companheiro Noel.
Examinando a bolgsfera de Papai Noel, tratou logo de criar o seu blog, uma espécie de blog matriz, onde ela poderia organizar todos os pedidos, selecionar por setores e encaminhar os pedidos para o departamento de produção.
Noel estava satisfeitíssimo com o desempenho de Mami (como ele a chamava, carinhosamente). Tanto que, aproveitando a eficiência de Mami, ele pode fazer uma viagenzinha emergencial lá para os lados da América do Sul, onde tinha de conversar com algumas crianças brasileiras.
Milhares de crianças que tinham pedidos especiais ao bom velhinho. Elas não compreendiam porque tinham de ficar esperando por vagas em creches e escolas, esperar por alimentos e moradia, por assistência médica, mesmo depois do advento do estatuto da criança e do adolescente. Elas diziam ao bom Noel que achavam injusto esperarem por corações, pulmões, córneas, rins, fígados, peles, por tanto tempo, até morrerem, com tanta gente morrendo e desperdiçando estes órgãos todos que poderiam salvar suas vidas. Perguntavam a ele por que tanta comida jogada fora, tanto desperdício e suas barriguinhas estavam vazias e doendo de fome. Não entendiam porque viam tantas crianças aleijadas, cegas, paraplégicas, tetraplégicas que não podiam brincar junto com elas, mas, viam homens saudáveis viajando em seus aviões de luxo para irem brincar em suas praias particulares. Elas não poderiam entender isso, pois algumas delas, não tinham sequer água para beber.
Noel a tudo ouvia e se esforçava por conter as lágrimas que teimavam em escorrer por sua face corada e por sua barba branquinha.
Mami que a tudo via e ouvia, através de videoconferência, também se penalizava com aquela situação.
Muito difícil para aquelas crianças entenderem tantas toneladas de comida jogadas no lixo, tantos bilhões em moedas valiosíssimas direcionadas para a compra de bombas e mísseis que matam e verem os hospitais que salvam vidas, caindo aos pedaços, sem recursos para os mais simples exames laboratoriais ou para meros curativos.
Homens viajando pelo espaço sideral e crianças morrendo de dengue ou sarampo.
Noel decidiu pedir para as crianças se mobilizarem num grande movimento para a mudança destas coisas erradas. Pediu a elas que nunca se tornem adultos como estes de agora, que preferem ficar com suas bundas bem acomodadas em suas poltronas, em frente aos seus computadores, chorando diante de e-mails fantasiosos e os encaminhando a Deus e o mundo, sem nada fazerem, efetivamente, para que ocorra a mudança necessária. Bastaria uma visita a um hospital ou a um asilo e levar uma palavra amiga, um abraço...Só isso bastaria para salvar vidas da desilusão, da depressão, da solidão...
Se compadecem com cenas dantescas de e-mails viróticos e nem lembram que bem na esquina de suas casas poderá haver uma creche precisando de voluntários... Uma horinha por semana, apenas...
Noel orientava as crianças que tudo deveria partir de meras ações, como por exemplo, não jogar lixo na rua ou reaproveitar os alimentos, reciclar materiais... Coisas simples que podem ser feitas no lar de cada um. Disse a elas que só a educação as fará melhores e que elas deveriam gritar aos líderes governamentais para que eles comecem a fazer alguma coisa positiva e urgentemente.
Mami tratou logo de enviar esta mensagem a todos os seus contatos do Messenger e de sua lista de endereços eletrônicos, porém, com um diferencial... Estas mensagens estavam repletas de vibrações amorosas e impregnadas com as vozes de todas as crianças brasileiras e de todo o mundo.
Noel magnetizou amorosamente todas estas mensagens, para que todos que a lerem, daqui para frente, possam ser inundados por este amor e se contaminarem com a vontade verdadeira de fazerem o melhor de si para que o mundo possa se melhor também.
Desta vez, o verdadeiro espírito do Natal fará sua parte e permanecerá nos corações humanos para sempre!
Feliz Natal a todos! Muita paz!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Façamos nós

É interessante esta luta humana em busca do necessário...
Na barriga da mãe estamos protegidos e ela nos supre. Mas, logo que saímos da barriga, começa nossa luta pelo necessário, já gritamos chorando, em busca do ar para respirarmos para depois irmos, sedentos, ao seio materno em busca do alimento.
Em pouco tempo, vamos conhecendo-nos, descobrindo nossas mãos, nossos pés e nos encantamos conosco. Logo vamos percebendo o que tem ao nosso redor... Olhamos quando ouvimos alguém nos chamando pelo nome e verificamos que tem muita coisa ao nosso redor. Então, nos mexemos, nos arrastamos meio desengonçados até conseguirmos engatinhar para irmos buscar o que descobrimos e que passa a ser necessário para nós. É uma grande luta, mas, através deste esforço de nos arrastar, engatinhar, esticar, nós conseguimos, finalmente, andar.
Pronto. A sorte está lançada. Agora passaremos a ter novas necessidades. Quantos tombos buscando o que queremos. Sempre aquela luta pelo material.
É imperioso, também, nos aprimorarmos para adquirirmos o que julgamos necessário. Para termos o bem material, nos esforçamos pelo aprimoramento e pela qualificação intelectual, profissional, financeira...
Necessitamos da escola primeira... Depois, as escolas secundárias, técnicas, depois as faculdades, as especializações, naquela busca incessante pelas muitas coisas efêmeras que necessitamos.
Mas, Deus não nos proíbe de lutarmos por isso. É lei natural a do progresso. É nosso dever progredir. Se assim não fosse, o homem não teria descido da árvore, não teria saído das cavernas.
Mas, o grande problema é o excesso. Sim. O excesso nos encarcera. Supervalorizamos o supérfluo e nos esquecemos que o mais importante são os valores morais, a qualificação moral, espiritual.
A humanidade (grande parte dela) inverteu alguns valores e passou a dar mais importância em ter, esquecendo-se, muitas vezes, de ser.
Infelizmente, nesta empreitada desesperada buscando o necessário que passa a ser, em pouco tempo, supérfluo, as pessoas ignoram certos princípios morais, acabam prejudicando pessoas, sem o menor escrúpulo.
Bem, mas, isso é com elas, diríamos muitos de nós. Porém, me pego pensando sobre isto. Sobre como o mundo seria melhor se fôssemos melhores.
O que está em nossas mãos fazer para modificar o que deve ser modificado? Qual a nossa responsabilidade, como seres humanos, nesta obra maravilhosa de Deus? Quais seriam nossas reais necessidades?
Penso que devemos fazer aquilo que já entendemos como certo e não ficar esperando que o outro faça. Façamos nós. Façamos a nossa parte. Já é um bom começo.
O todo só irá mudar, efetivamente, quando a unidade mudar.
Mãos a obra.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Adoção, vitória

Ao se aproximar o momento em que todos os participantes desta blogagem coletiva sobre adoção iriam postar seus textos, fiquei numa expectativa enorme.
Chegou o momento e estou muito feliz por poder participar deste movimento maravilhoso, encabeçado por Georgia e Dácio. Sou grata a eles que, direta ou indiretamente, nos convidaram a participar.
Em meu humilde texto, relato uma história verdadeira, relembrada com lágrimas quando a escrevi.
Entrego-lhes com muito carinho e respeito.
Obrigada! Muita paz!

Em nosso trabalho voluntário, lá no Centro de Assistência e Promoção Social Ana Vieira (CAPSAV), nos deparamos com muitas histórias. Especialmente lá na creche, somos obrigados a conhecer a história de todas as crianças e suas famílias.
O CAPSAV é constituído por 03 unidades, uma delas é a Creche Irmã Chiquinha que recebe, diariamente, 130 crianças de 0 a 4 anos, de famílias totalmente carentes. Porém, as mãezinhas têm de comprovar que trabalham e que não tem onde deixar seus filhos.
O fato de serem carentes no sentido material, não significa que todas as famílias que são assistidas sejam ignorantes. Têm mães e pais que estudam também, além de trabalharem.
Certa vez enfrentamos um problema muito dramático. Tínhamos, aos nossos cuidados, três crianças que ficavam lá na creche das 7 h da manhã até as 17:30 h, quando sua mãe, a Maria, ia buscá-los, após seu dia de trabalho. À noite estas crianças ficavam com o pai, pois a Maria estudava. Fazia supletivo para poder ter mais preparo. Ela queria melhorar de vida, ter um emprego melhor e, para isso, enfrentava a jornada de aulas noturnas, depois de um longo dia de trabalho pesado.
Esta mãezinha sofria de asma que lhe causava grande sofrimento. Fazia uso de medicamentos, inclusive, aquelas “bombinhas” com medicamento bronco dilatador. O pai, desempregado, fazia uso constante de alcoólicos, trazendo muitos aborrecimentos, não só à mãe como também às crianças e a nós, da creche.
Certa vez, numa sexta-feira, a mãe foi retirar as crianças e observamos que ela estava muito mal, atacada da bronquite asmática que lhe fazia sofrer muito. Debilitada ao extremo, percebemos o imenso cansaço e desespero desta mãe.
O seu filho mais velho, de nome Álvaro, já havia ficado alguns finais de semana na casa de uma de nossas diretoras, a Laura, que queria, justamente, colaborar com esta mãe que, aos finais de semana, tinha de arrumar sua casa, lavar as roupas das crianças e as dela e do marido, cozinhar, passar e tudo o mais que se tem a fazer em casa. O marido, sempre bêbado, em nada colaborava. Ao contrário, só trazia mais problemas com sua bebedeira, originando dívidas, brigas na rua e em casa, chegando inclusive a bater nas crianças e na mulher.
Laura estava se apegando demais ao menino Álvaro e ele a ela. O pai ficava muito enciumado e chegou, algumas vezes, a impedir que o menino ficasse com Laura.
Neste dia, na sexta-feira, quando vimos o grande abatimento da mãezinha, Laura ofereceu-se para ficar com o menino e a mãe negou dizendo que o pai havia proibido.
Na segunda-feira, logo de manhãzinha, recebemos as crianças como de costume. Sentimos a ausência daquelas três crianças. Ainda durante a amanhã, chega-nos a triste notícia. Maria, a mãe das três crianças, havia ficado muito mal na sexta-feira e durante todo o sábado. O marido, sempre fora de casa, bêbado, chegara somente no domingo, como costumava fazer. Os vizinhos relataram que as crianças estavam chorando muito, desde a noite de sábado e durante toda a madrugada. O homem abre a porta da casa humilde e se depara com o corpo da esposa, já enrijecido. Sim. Morta. Quem poderá dizer o sofrimento desta mãezinha, sem ar para respirar, usou o medicamento à exaustão. Seu coração não suportou o excesso do medicamento. Ela faleceu, tentando viver. As crianças, de tanto chorarem, adormeceram ao lado do corpo da mãe e só acordaram com o movimento e barulho do pai ao entrar em casa, junto com os vizinhos.
O desespero toma conta de nossa querida Laura. Todos nós, compadecidos com o acontecimento trágico, não conseguíamos atinar com as idéias.
Bem, foram dias tristes e semanas intensas de providências que tiveram que ser tomadas, dando assistência a esta família.
Durante este período, as crianças foram divididas entre familiares, haja vista a incapacidade do pai, por sua condição de alcoólatra. O menino maior, Álvaro, ficou em casa de Laura. Os outros menores ficaram em casa de parentes próximos.
Os dias corriam normais e Laura se apegava cada vez mais ao menino. O pai, enciumado, ia à creche e sempre fazia confusão, muitas vezes com discussão exacerbada sobre o menino e com nossa colega Laura. Um dia, Laura protocoliza, na Vara de Família do poder judiciário, o pedido de guarda desta criança e, após exaustivo processo, consegue a guarda provisória.
O pai, inconformado, passa a infernizar a vida de nossa querida Laura, entrando também na justiça para reaver a guarda do menino. O processo foi longo e doloroso. O menino, na época, estava com 4 anos de idade e no ano seguinte não poderia mais freqüentar a creche, pois nosso trabalho é dedicado a crianças de zero a 4 anos e 11 meses.
Sempre encaminhamos as crianças da creche quando alcançam esta faixa etária, para as escolas municipais de educação infantil, para onde o menino Álvaro seria encaminhado.
Com o processo em andamento, o juiz da Vara de família devolve a guarda ao pai que desaparece com as crianças e ficamos sem notícias por longo tempo.
Com imenso pesar Laura prosseguiu no trabalho redentor da creche, sempre lembrando do menino Álvaro e seus irmãozinhos, temendo pelo destino de todos.
Os anos se passaram. Oito anos, para ser mais exata. Numa manhã, iniciando os trabalhos da creche, surge no portão uma mulher com 03 crianças aos seus cuidados, uma delas, um pré-adolescente, loirinho e tímido. Ao ver Laura o menino abre um enorme sorriso e corre ao seu encontro, abraçando-a em prantos. No mesmo instante Laura reconhece Álvaro, agora tão crescido, com ares de homenzinho, nos seus 12 anos.
A alegria e emoção envolveram a todos os funcionários da creche. Todos queriam saber dele tudo o que havia se passado.
A mulher, que era a tia das crianças, relatou a triste história. O pai das crianças, quando obteve a guarda de Álvaro e dos irmãos, mudou de cidade. Voltou para seu lugar de nascimento, no nordeste brasileiro, sem destino, sem emprego, sem nada. Durante todo este tempo, fazia “bicos” para obter algum dinheiro e consorciou-se com várias mulheres, explorando-as de todas as maneiras, exigindo delas que cuidassem das crianças. Álvaro e seus irmãos sofreram todo tipo de maus tratos, passando até fome e sofrendo violências físicas, como surras e cárcere privado.
Esta tia havia prometido diante do túmulo da irmã querida que morrera deixando os filhos, cuidar deles ou, pelo menos, encaminhá-los para que tivessem educação e segurança.
Fez contatos com familiares das crianças, lá no nordeste e conseguiu o paradeiro deles.
Com ajuda de força policial, trouxe as crianças de volta para SP e nos procurou, na creche, a fim de ter a orientação necessária para bem cuidar dos menores.
Nossa Instituição a ajudou em tudo. Nossa querida Laura agilizou tudo para que as crianças menores pudessem ficar com a tia. Esta tia concordou que Álvaro deveria ficar com Laura de quem o pai jamais deveria ter tirado.
Após os trâmites legais, Laura, mesmo com 74 anos de idade, ganhou a guarda definitiva de Álvaro e a tia a guarda definitiva dos outros dois menores. O meritíssimo Juiz estabeleceu, também, a não aproximação do pai das crianças, sob pena de prisão, caso ele insistisse.
Hoje Álvaro já está com 16 anos e estudando o curso de ensino médio. Pretende fazer faculdade de Direito e abraçar as causas de família. Seus dois irmãozinhos também estão estudando e vivem felizes em companhia da tia querida.
Neste meio tempo, Laura ficou viúva, mas, sente-se feliz pela dádiva da vida, por tudo de bom que a vida lhe ofereceu e por Deus ter-lhe trazido Álvaro, seu filho adotivo amado, de volta. Com certeza ele cuidará de sua velhice com todo amor e carinho.