São tantas recordações, meu Deus! Especialmente agora, pelas comemorações de fim de ano. Temos todos nós, muitas histórias para contar. Muitas memórias sobre Natal. Mas, revendo algumas receitas para escolher algumas para as festas natalinas, lembrei-me das rabanadas...
Quando pequeninos, meus irmãos e eu tantas vezes sonhávamos com aqueles quitutes deliciosos, que víamos pela televisão, ou mesmo nas revistas... Pedíamos para nossa mãe preparar, porém, nem sempre dava para serem aquelas, da revista ou da TV...
Lá pelos idos de 1964, quando vivíamos os turbulentos dias da revolução, numa imensa dificuldade financeira, pois meu amado pai havia ficado detido no DOPS, mamãe tinha que se virar para que não faltasse o alimento à nossa mesa. Meu pai amado era líder sindicalista, dentro da Mafersa, onde trabalhava. Não tinha vínculos políticos, não participava de nenhuma atividade subversiva. Apenas era como um “porta voz” dos colegas, dentro da fábrica. Porém, foi levado para esclarecimento e ficou por 30 dias detido no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) em São Paulo. Era para lá que os presos políticos eram levados, durante a ditadura militar, para serem interrogados, torturados e, em muitos casos, mortos pelo sistema autoritário que regia o país. Foi no prédio localizado na região da Estação da Luz que homens e mulheres viveram e presenciaram cenas de violência inimaginável, que o tempo ainda não conseguiu apagar. Felizmente, nada puderam provar contra meu pai e ele foi libertado, graças a Deus, mas, ficou desempregado e um longo período de penúria se abateu sobre nossa família. Nosso avô materno era quem supria nossas necessidades, neste período.
Tudo isto para eu falar sobre como pudemos apreciar as famosas rabanadas, um prato muito saboroso e por um custo baixo. Minha mãe e minha avó, para satisfazer nossa vontade quanto aos quitutes natalinos que víamos na televisão ou nas revistas, nos contou que era uma iguaria muito apreciada, herança da culinária portuguesa e estava sempre presente nas mesas mais requintadas de nossa cidade.
Para nós, crianças, que até então acreditávamos que era simplesmente pão frito, passamos a ver com outros olhos e a saborear com mais prazer as famosas rabanadas.
Hoje, posso dizer que faço questão de tê-las em minha mesa nas festas de fim de ano. Que delícia!
Feliz Natal a todos! Boas Festas!
Por Sonia Astrauskas
Quando pequeninos, meus irmãos e eu tantas vezes sonhávamos com aqueles quitutes deliciosos, que víamos pela televisão, ou mesmo nas revistas... Pedíamos para nossa mãe preparar, porém, nem sempre dava para serem aquelas, da revista ou da TV...
Lá pelos idos de 1964, quando vivíamos os turbulentos dias da revolução, numa imensa dificuldade financeira, pois meu amado pai havia ficado detido no DOPS, mamãe tinha que se virar para que não faltasse o alimento à nossa mesa. Meu pai amado era líder sindicalista, dentro da Mafersa, onde trabalhava. Não tinha vínculos políticos, não participava de nenhuma atividade subversiva. Apenas era como um “porta voz” dos colegas, dentro da fábrica. Porém, foi levado para esclarecimento e ficou por 30 dias detido no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) em São Paulo. Era para lá que os presos políticos eram levados, durante a ditadura militar, para serem interrogados, torturados e, em muitos casos, mortos pelo sistema autoritário que regia o país. Foi no prédio localizado na região da Estação da Luz que homens e mulheres viveram e presenciaram cenas de violência inimaginável, que o tempo ainda não conseguiu apagar. Felizmente, nada puderam provar contra meu pai e ele foi libertado, graças a Deus, mas, ficou desempregado e um longo período de penúria se abateu sobre nossa família. Nosso avô materno era quem supria nossas necessidades, neste período.
Tudo isto para eu falar sobre como pudemos apreciar as famosas rabanadas, um prato muito saboroso e por um custo baixo. Minha mãe e minha avó, para satisfazer nossa vontade quanto aos quitutes natalinos que víamos na televisão ou nas revistas, nos contou que era uma iguaria muito apreciada, herança da culinária portuguesa e estava sempre presente nas mesas mais requintadas de nossa cidade.
Para nós, crianças, que até então acreditávamos que era simplesmente pão frito, passamos a ver com outros olhos e a saborear com mais prazer as famosas rabanadas.
Hoje, posso dizer que faço questão de tê-las em minha mesa nas festas de fim de ano. Que delícia!
Feliz Natal a todos! Boas Festas!
Por Sonia Astrauskas
5 comentários:
Soninha, Soninha, Soninha!
Delicioso o teu texto.
Primeiro porque abre uma fresta que nos permite ver um pouquinho (você, sempre discreta) das aflições que marcaram tua vida durante os anos de chumbo. Poucos passaram incólumes pelas trevas.
Permita que eu chame teu pai de companheiro.
Meu pai, brizolista, e igualmente sindicalista (apenas isto) também sofreu. O filho (eu) comunista e utopicamente revolucionário contribuiu para tornar a vida de Seu Antonio mais aflitiva - e também mais orgulhosa.
Coisas de baguais do sul.
Em silêncio, a mãe providenciava a energia para a valentia dos machos. Neste quesito, a rabanada sempre foi um manjar, independente da situação econômica, mas principalmente em época de festa. Era tribom! Nunca conheci uma mulher que fizesse rabanadas melhor do que a mãe. Até agora. O teu texto me leva a crer que a sabes a magia das rabanadas de infância, onde a carência se tornava uma maravilha gustativa. Um dia quero provar.
Aposto que também sabes fazer pudim de pão!!!
Ave, Sonia. Os guerreiros te saúdam.
Não se fazem mais mulheres assim.
Beijo
Soninha! Saudades!
Desejo que tenhas junto aos teus muito amor e imensa paz em 2011.
E os docinhos parecem uma delícia. Vou aí para experimentá-los hora dessas... Beijo
Doces recordações sobre um período bem amargo, caríssima Sônia: só você, com suas hábeis mãos artísticas (na escrita e agora culinárias!) conseguem feito assim! Também gosto desta iguaria, por mais simples que seja - e talvez justamente por isso...
Feliz 2011 para você e o dileto Miguel: que postem mais causos deliciosos em seus blogues pessoais, não só no "Sampa Crew" (a propósito, vi tua cantoria de boleros por lá, bem como comentei no teu texto e no do Miguel, depois dêem uma conferida, ok?)! Abração!
Oi Soninha,
que texto hein?
bom saber um pouquinho de você, de sua infância e do seu gosto.
Bom poder ter história de natal para contar. E melhor ainda é ter um pouquinho de sua história aqui partilhada.
Um abraço
Ahhh, rabanadas, delícia. Adoro essa guloseima e admiro quem as faz. Sinto muito pela passagem amarga de teu pai durante os anos de ferro, de chumbo, infelizmente conheci pessoas que ficaram detidas e sofreram muito no cárcere. Meu beijo minha cara, até logo mais.
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